Há alguns dias postei em Quem? #lesbocídio sobre o caso do travesti Suzy, que virou ícone instantâneo do ativismo LGBT, após ter sido entrevistado pelo ativista Drauzio Varella em um programa de televisão.
Na postagem, eu indicava um estranhamento com o fato de que o crime cometido pelo travesti não havia sido mencionado na matéria do Fantástico e com o fato de que ele está preso há pelo menos 8 anos. Uma pena de 8 anos em regime fechado, sem ainda ter sido dado o benefício do semiaberto ou do aberto, indica o cometimento de algum crime grave ou uma coleção de crimes de menor gravidade ou reincidência, mas o presidiário só falava sobre o preconceito tê-lo empurrado para a prostituição (que não é crime, e não explica o porquê de ele ter parado ali).
Mesmo crimes gravíssimos, como homicídio, quando cometidos por réus primários e de forma não qualificada, não costumam gerar penas muito superiores a 8 anos.
O Grupo Ciências Criminais – uma organização virtual que possui páginas no Instagram e no Facebook – publicou uma postagem informando que Suzy está preso por ter assassinado e ocultado o cadáver de uma criança, após ter estuprado o menor. O grupo é formado por advogados criminalistas e havia sido uma das muitas organizações de ativismo nas redes sociais a se mobilizar em apoio à Suzy.

Quando o GCC postou sua campanha de apoio ao presidiário, vários seguidores questionaram sobre o porquê de não prestarem apoio às vítimas ou sobre quais crimes ele havia cometido.
Estas pessoas foram – inclusive – tratadas com bastante sarcasmo pelos administradores do perfil do GCC no Instagram.

REVIRAVOLTA
Eis que agora há pouco o GCC voltou atrás em sua proposta de prestar apoio jurídico ao criminoso. Segundo esclarecimento dado no Instagram, o motivo da mudança de posicionamento foi a descoberta sobre detalhes dos crimes pelos quais o criminoso está preso.
A página logo recebeu uma nova – e aparentemente maior – enxurrada de críticas.
Desta vez vindas de outro perfil de seguidores: estes alegam que pouco importa o crime cometido pelo travesti, que o papel dos advogados é o de defendê-lo. Houve também quem reclamasse da “exposição” do caso, pois o criminoso já havia sido julgado e agora precisava de “empatia” e não de mais julgamento. Alguns ainda reclamaram do fato de o texto publicado pelo Ciências Criminais ter colocado “Suzy”, entre aspas, o que seria um ato de “transfobia”.

Também hoje, o portal O Antagonista informou que uma apuração feita pelo site juntos a juízes criminais confirmou que Suzy é – na verdade – Rafael Tadeu.
DELEÇÃO DA POSTAGEM
Após o post com a descrição do caso ter viralizado e a postagem ter sido inundada de comentários favoráveis e contrários ao reposicionamento do grupo, o Ciências Criminais deletou a postagem em que dava detalhes sobre o caso e publicou uma nova nota.
O canal argumentou que Suzy já foi julgado e já está cumprindo sua pena, e que “não há necessidade de linchamento ou julgamento virtual”.
O CRIME
De acordo as informações anteriormente postadas pelo Grupo Ciências Criminais, Suzy de Oliveira Santos é – na verdade – Rafael Tadeu de Oliveira dos Santos.
Este fato, aliás, foi um dificultador na busca feita por mim mesmo de informações sobre o caso: há alguns dias tentei encontrar informações judiciais a partir do apelido ou do sobrenome de Suzy, mas sem sucesso. As informações estavam disponíveis na internet, o processo é público, mas não estavam em nome de “Suzy de Oliveira Santos” e o sobrenome “de Oliveira Santos” é comum demais para possibilitar uma pesquisa eficaz.
O criminoso foi condenado por estuprar e ceifar a vida de um pequeno ser humano do sexo masculino, de apenas 9 anos de idade. Antes de matar o pequeno Fábio Lemos, Rafael Tadeu havia abusado do menino tanto por meio de cópula anal quanto por sexo oral. O assassinato e a tentativa de ocultação do cadáver se deram como forma de evitar a descoberta do estupro.
Embora este tenha sido o único crime pelo qual foi condenado, o acórdão que denega pedido de revisão de sentença impetrado pela sua defesa indica que – durante as investigações do crime em tela – a própria tia do criminoso indicou que ele já havia sido implicado em outras acusações de abusos contra crianças, além de outros crimes diversos.
E SE FOSSE UM HOMEM HÉTERO BRANCO?
Rafael Tadeu é um ídolo típico associado a um certo modo de pensar que santifica ou demoniza seres humanos não pelos seus aspectos individuais, mas por certos discursos em torno das coletividades às quais pertencem. Costumamos chamar a este modo de pensar de “identitarismo”.
Pelo discurso identitarista LGBT, travestis são vítimas de opressão, de preconceito, de discriminação, de desigualdade, de falta de oportunidades. Este é o mantra em torno do “coletivo” em que as personagens daquela peça de publicidade apresentada por Drauzio estão inseridas.
Rafael Tadeu é um travesti: só lhe cabe ser vítima, apenas vítima, nada mais do que vítima. Não há outro papel a exercer – pelos que lhe vêm tratando como ícone do ativismo na última semana – que não o de vítima. Não apenas ele, mas todos os que foram apresentados, nada mais são do que vítimas, e vítimas especificamente pelo fato de serem travestis.
Este era o tom da matéria: não se tratava a dificuldade em se ambientar nos primeiros meses, o abandono familiar, a dificuldade de acesso a bens de higiene, os escambos e disputas de poder internos como problemas comuns a qualquer presidiário – como de fato o são. Tudo ali era proposto como algo do qual sofrem especialmente os presidiários travestis.
A resposta a @marrizefranca, esta comentarista perdida no mar de palpites do Grupo Ciências Criminal, é óbvia.
Se Rafael Tadeu fosse um homem hétero branco condenado pelo estupro de uma menina de apenas 9 anos e pelo seu posterior assassinato, nenhum dos ativistas cheios de empatia e amor no coração que hoje defendem o perverso travesti estaria preocupado com o “linchamento virtual” ou com o “julgamento público” ou com o “abandono social” contra o presidiário.
Para aqueles que só são capazes de ver coletivos, e nunca indivíduos, ele não faria parte do coletivo das vítimas, e sim do coletivo de algozes.
Deixe um comentário