Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2020
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Milta de Jesus Oliveira, de 75 anos, sofreu um mal súbito e foi internada em uma UTI da rede pública de saúde da capital nacional. A senhora havia sido acusada injustamente de ter roubado um par de chinelos, e passou mal devido ao constrangimento. Foi comprovado por imagens de câmera de segurança que Milta não havia furtado nenhum produto.
Durante os últimos dias a grande imprensa trouxe uma inovação que parecia ter vindo para ficar: pessoas envolvidas em supostos abusos de funcionários de supermercados deveriam obrigatoriamente ter suas cores de pele identificadas, mesmo que erroneamente, nas manchetes, subtítulos e textos noticiosos.
Quando um criminoso pardo morreu num hipermercado em Porto Alegre todas as matérias destacavam a alegada etnia do homem morto e algumas destacavam a etnia dos seguranças que reagiram às agressões de Beto Freitas. A RBSTV, por exemplo anunciou no título de sua reportagem que “Homem negro é espancado até a morte em supermercado do grupo Carrefour em Porto Alegre” e no subtítulo que “Dois homens brancos, incluindo um PM, foram presos por agredir e matar João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos.”
O UOL não fez por menos e gritou em sua manchete que “Homem negro morre espancado por seguranças em Carrefour do RS” ao que acrescentou, logo no começo do texto, que “Um homem negro foi espancado e morto por dois homens brancos em um supermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, na noite desta quinta-feira, 19, véspera do Dia da Consciência Negra”.
Seria de se esperar que quando uma idosa de pele branquíssima, menos de duas semanas, teve passou mal e foi internada após ter sido agredida por meio de acusações caluniosas por parte de uma funcionária de um supermercado na capital do país, a grande imprensa divulgasse títulos como “Idosa branca é vítima de calúnia e é internada em consequência da agressão” acrescentados de informações detalhadas sobre a cor dos funcionários envolvidos, pois não? Pois nunca.
Desta vez nenhum veículo de grande imprensa sentiu a necessidade de fazer alarde sobre a cor da vítima, mesmo que desta vez (ao contrário do episódio no hipermercado portoalegrense) a vítima realmente fosse inocente. O Correio Braziliense (que na semana retrasada havia anunciado que “Homem negro é espancado e morto por segurança e PM em Carrefour de Porto Alegre”) se limitou, desta vez, a dizer que “Idosa passa mal após ser acusada injustamente de furtar chinelo em mercado no DF”.
Não houve nenhuma informação sobre a etnia da mulher que acusou falsamente a idosa branca. Será que a funcionária era negra? Não saberemos. Todos os demais grandes portais acompanharam a receita: nenhuma menção textual ao fato de que a idosa era branca, nenhuma referência à etnia – possivelmente negra, não saberemos – da agressora.
Talvez o motivo seja simples: é que Milta é uma mulher claramente branca, branquíssima, basta olhar a foto da senhora, que estampou algumas das matérias. Já quanto ao criminoso morto no Carrefour, só saberíamos que ele era negro se a imprensa dissesse mesmo.
NENHUM ATO DE VANDALISMO PROGRAMADO
Movimentos de ativismo branco de Brasília não anunciaram protestos violentos na loja do Super Adega, no Jardim Botânico. Políticos do PSOL e artistas em situação de PROJAC não levantaram nenhuma hashtag de protesto no Twitter. Manuela do PCdoB ainda não usou suas redes sociais para convocar atos de vandalismo contra o supermercado.
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(Explicação que deveria ser desnecessária: em nenhum dos dois casos houve racismo e em nenhum dos dois casos as etnias dos envolvidos era importante. A questão aqui é o duplo padrão aplicado pela imprensa.)
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