A Cloroquina não é um antiviral nem um anti-inflamatório, e sim um antimalárico, utilizado em casos de malária, que é um protozoário, não um vírus. OMS e Conitec recomendam não utilizar os medicamentos, porque inócuos ao tratamento. (sic)
O trecho acima é de uma matéria de Caio Junqueira, jornalista da CNN que se baseou numa “equipe de checagem rápida organizada pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL)” para divulgar categoricamente que a cloroquina não tem ação antiviral nem anti-inflamatória, porque é um antimalárico.
A “checagem” pretende rebater a Dra Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, que afirmou que a hidroxicloroquina e a cloroquina têm ação antiviral e que há publicações científicas atestando isso desde 2005, muito antes de as substâncias serem politizadas em função da pandemia de coronavírus chinês, portanto ( assista abaixo o vídeo com as alegações feitas pela médica ).
Caio afirma, mentirosamente – com base na “checagem” feita pelo senador alagoano – que a médica mentiu.
Bastaria que Caio jogasse hydroxychloroquine chloroquine antiviral no Google Acadêmico para verificar que as substâncias já vêm mesmo sendo estudadas, com resultados positivos in vitro, em animais modelos e em humanos contra uma série de infecções virais, inclusive coronavírus humano e HIV, desde há cerca de duas décadas. Os estudos saíram em revistas tão prestigiosas quanto a The Lancet e a Nature, entre outras.
Em 2011, Ilan Ben-Zvi e seus colegas indicaram que: O vírus corona humano (hCoV) causou uma quase pandemia de síndrome respiratória aguda grave em 2002-2003. Até o momento, nenhum medicamento antiviral específico para a prevenção ou tratamento da infecção por hCoV está disponível. Recentemente, a cloroquina demonstrou inibir a replicação e disseminação do coronavírus in vitro e previniu a infecção com hCoV em camundongos recém-nascidos, mostrando-se promissora como uma terapia potencial para esse vírus resistente.
Em 2006, Andrea Savarino e colegas afirmaram que: Os efeitos antivirais de amplo espectro da cloroquina merecem atenção especial em um momento em que o mundo está ameaçado pela possibilidade de uma nova pandemia de influenza, e a disponibilidade de medicamentos eficazes seria fundamental durante a avaliação de uma vacina eficaz.
Em 2014, Premanshu Bhushan e seus colegas informaram que: Os antimaláricos são amplamente usados na dermatologia para o tratamento de vários distúrbios, como lúpus eritematoso e fotodermatoses, com perfil de toxicidade limitado e bem evitável. (…) No entanto, recentemente, descobriu-se que os antimaláricos agem como antivirais de amplo espectro, interferindo na entrada viral mediada por endossomo ou nos estágios finais da replicação dos vírus. Tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina são bases fracas, que acumulam e aumentam o pH dos endossomos, lisossomas e vesículas da rede trans-Golgi, interrompendo várias enzimas, incluindo hidrolases ácidas, e inibindo a modificação pós-tradução de proteínas recém-sintetizadas. Além disso, com essas ações diretas, eles também podem atuar reduzindo os componentes inflamatórios da infecção viral, reduzindo as citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa. A propriedade antiviral da cloroquina foi demonstrada para muitos vírus, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV). A eficácia in vitro da cloroquina / hidroxicloroquina foi confirmada em ensaios clínicos contra o HIV, onde em um estudo cloroquina 250 mg duas vezes ao dia foi encontrado para reduzir a carga viral significativamente.
Viu ali o “reduzindo as citocinas pró-inflamatórias”?
Sim, se o Caio tivesse jogado | chloroquine and hydroxychloroquine anti inflammatory | no Google Acadêmico ele teria descoberto que: O processo de encontrar novas indicações terapêuticas para os medicamentos usados atualmente, definidos como ‘reaproveitamento’, está recebendo atenção crescente. A cloroquina e a hidroxicloroquina, com indicação original para prevenir ou curar a malária, têm sido utilizadas com sucesso no tratamento de vários infecciosos (HIV, Q febre, doença de Whipple, infecções fúngicas), reumatológicas (lúpus eritematoso sistêmico, síndrome do anticorpo antifosfolipídeo, artrite reumatoide, síndrome de Sjögren) e outras doenças imunológicas. Na verdade, eles têm efeitos antiinflamatórios, imunomoduladores, anti-infecciosos, antitrombóticos e metabólicos Dentre os efeitos biológicos da cloroquina e da hidroxicloroquina, é importante destacar suas propriedades antitumorais, provavelmente devido às suas fortes capacidades antiproliferativa, antimutagênica e inibidora da autofagia.
SOBRE A NÃO RECOMENDAÇÃO PELA OMS
A OMS patrocinou, ao longo de 2020, um estudo específico sobre o uso de cloroquina em paciente internados; e o estudo indicou que a substância não tem resultado nestes pacientes.A iniciativa foi batizada de Solidarity Trial. A partir deste estudo a OMS afirma que os resultados foram conclusivos e que não orienta nenhum novo teste em pacientes internados.
Posteriormente a OMS publicou um diretriz contraindicando fortemente o uso profilático (em pacientes sem Covid-19).
CONCLUSÃO
Em resposta aos senadores Tasso Jereissati e Otto Alencar a secretária Mayra Pinheiro diz que desde 2005 há estudos apontando ação antiviral por parte da hidroxicloroquina e da cloroquina, contra diversos tipos de infecção. A fala é tratada como falsa por matéria da CNN, mas é corroborada por vasta gama de estudos pré e pós pandemia (como este, recente, publicado na Nature: https://www.nature.com/articles/s41421-020-0156-0 ).A checagem divulgada pela CNN é FALSA quanto a este ponto.
Quanto à posição da OMS, as diretrizes atuais contraindicam expressamente o uso em pacientes internados, bem como em pacientes não infectados (uso profilático).
FONTES:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3969705/
https://link.springer.com/article/10.1007/s12016-010-8243-x
https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(06)70361-9/fulltext
https://link.springer.com/article/10.1007/s40261-018-0656-y
https://www.bmj.com/content/372/bmj.n526
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